domingo, 25 de setembro de 2011

A ÚLTIMA CEIA

FERNANDA SILVA GARCIA


A Última Ceia de Leonardo da Vinci é uma das obras mais importantes do pintor e a mais importante do mundo cristão. Foi encomendada pelo Duque Ludovico Sforza para o refeitório do Mosteiro de Santa Maria delle Grazie, em Milão,  “templo” escolhido pelo Duque para sua família e sepultamento. O intuito da tarefa era modesta mas tornou-se uma das mais comentadas obras da humanidade. Levou 3 anos para ser concluída (1495 a 1497).
A obra retrata o momento exato onde Cristo em sua última refeição com os seus 12 apóstolos anuncia “Um de vós me trairás”, referente ao Evangelho de João 13:24. Podemos perceber as diversas reações que a notícia causou aos apóstolos. Incredulidade, espanto, pavor, revolta e Jesus em trânquila resignação e aceitação. Leonardo demostrou grande fidelidade ao texto e estudou minuciosamente cada personagem da cena que queria retratar.
Da Vinci pintava à sua maneira mas se dedicou com muito afinco ao término desta obra, o que não era característico de sua personalidade. Ele estudava cada figura, sua maneira, sua natureza, antes de pintar o personagem. Procurava pessoas do tipo desejado cuidadosamente na natureza e não modelos conhecidos. Deu às figuras expressão e diversidade, movimento e contraste.
O escritor Bardello vivia no mosteiro na época e conta que Leonardo ficava horas a fio pintando, depois passava dias sem nem olhar, outras vezes ficava horas observando e refletindo, às vezes dava apenas algumas pinceladas. O próprio Leonardo , quando indagado sobre não estar realizando o seu trabalho, disse que ficava horas em Borghetti (lugar onde viviam os analfabetos e criminosos) procurando um rosto apropriado a Judas e que já que estavam reclamando da demora, ele colocaria o rosto do prior, que serviria perfeitamente.
Outra história interessante sobre a pintura foi que Leonardo emprestou tanta beleza a Tiago Maior e a Tiago Menor que não sabia como terminar o rosto de Jesus e um amigo lhe disse que o seu pecado era tão grande que melhor seria deixá-lo como está, e assim ocorreu.


estudo de Leonardo com o nome de cada apóstolo


Esboço à carvão


Esboço de Felipe


Estudo sobre o rosto de Jesus


Judas

Leonardo era extremamente perfeccionista e um estudioso nato. Achava que cada obra era uma coisa nova e estudava cada personagem, o que deu a “A Ultima Ceia” todo esse realismo e proximidade com os textos do Evangelho que podemos supor que realmente aconteceu dessa forma. Foi a sua obra mais suave de sua autoria e uma grande contradição, uma vez que Leonardo era pagão, crítico da Igreja e conseguiu pintar uma das maiores obras de fé.
Hoje o Mosteiro de Santa Maria delle Grazie não é mais utilizado e o refeitório foi transformado num museu. A técnica usada na pintura foi a têmpera a óleo sobre duas camadas de gesso aplicadas ao reboco. Infelizmente, esta técnica e o local onde foi colocada prejudicaram muito a pintura pois a tinta vai se soltando. Várias restaurações foram feitas, as finezas das expressões acabaram se perdendo e podemos apenas imaginar pelos esboços do próprio Leonardo.
Além disso, muitas foram as agressões feitas ao local. Serviu de estábulo numa época, abriram uma porta embaixo do quadro destruindo a parte de baixo, mas graças à valorização do povo da cidade e hoje de todo o mundo, a obra conseguiu salvar-se de tantas intempéries, deterioração das tintas, ambiente insalubre e um ataque aéreo durante a Segunda Guerra Mundial


Foram 8 restaurações documentadas e a última durou mais de 20 anos, concluída em 1999. Dizia-se que em 1517 já se lamentava em os danos sofridos pela pintura. Em 1556   “não se conseguia ver mais que uma mancha ofuscante” e em 1642 que “restavam poucos traços das figuras”. Com isso, podemos crer que pouco vemos da pintura original e muito se perdeu da expressividade dos personagens, o que nos faz pensar quão grandiosa essa obra teria sido e como gostaríamos de contemplá-la no seu estado original.
Mais do que restaurações foram as imagens e sentidos ocultos atribuídos a obra de Leonardo da Vinci, desde a sua concepção e principalmente nos tempos modernos, além de lendas sobre o próprio mestre, o que fez a obra ser conhecida ainda mais, mas limitando o olhar das pessoas aquém do seu real e majestoso objetivo: o de retratar fielmente uma das cenas bíblicas de maior importância para o mundo cristão, com expressividade, fidelidade, suavidade, e um dos maiores dons de Leonardo da Vinci: o de captar emoções humanas.

Um comentário:

  1. PARABÉNS PELA PESQUISA FERNANDA.
    SERIA BOM CONCLUIR COM UMA OPINIÃO PESSOAL SUA E CITAR AS FONTES PESQUISADAS.

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