domingo, 14 de agosto de 2011

Renascimento do que?


Denominamos de Renascimento o período de grandes mudanças na economia, política, cultura e forma de pensar do povo europeu.
O Renascimento ou Renascença foi um movimento artístico essencialmente urbano, que nasceu nas cidades italianas que viviam do comércio, como Florença, Veneza, Pisa e Gênova, entre fins do século XIII e perdurou por toda Europa (França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal e Holanda) até o século XVII, correspondendo ao final da Idade Média e início da Idade Moderna.

   Os italianos do século XIV acreditavam que a arte, ciência e erudição tinham florescido no período clássico, que todas essas coisas tinham sido destruídas pelos bárbaros do Norte e que lhes cumpria a missão de ajudar a reviver o glorioso passado e, portanto, a inaugurar uma nova era.
    Em nenhuma cidade esse sentimento de confiança e esperança era mais intenso do que em Florença, berço de Dante e de Giotto. Foi nessa próspera cidade de mercadores, nas primeiras décadas do século XV, que um grupo de artistas se dispôs deliberadamente a criar uma nova arte e a romper com as idéias do passado.
                                                   (GOMBRIGH, 1972, p. 169)

                Apesar das inúmeras mudanças políticas, econômicas (transição do feudalismo para o capitalismo), sociais (enriquecimento da burguesia e fortalecimento do poder dos reis) e intensificação da vida urbana ocorridas neste período, o movimento renascentista ficou reconhecido como o período de grandes inovações artísticas e científicas (período de grandes navegações, novas técnicas de exploração agrícola, difusão das armas de fogo, surgimento da imprensa e desenvolvimento da física, matemática, engenharia, filosofia, astronomia etc).
            Todas essas mudanças despertaram novos conceitos sobre a natureza e o ser humano.
Os principais ideais do Renascimento foram:

                                 Humanismo: principal valor cultivado no Renascimento, com o interesse dos sábios pelos textos da antiguidade clássica, tendo como método de aprendizado o uso da razão individual e da evidência empírica, tornando o homem um investigador por excelência da natureza, através do desenvolvimento das disciplinas relacionadas à vida humana como matemática, história, línguas e filosofia. A finalidade do humanismo era desenvolver no homem o espírito crítico e a confiança em suas possibilidades.

    O humanismo é um movimento cultural, surgido em Florença em meados do século XIV, que aspira alcançar a plenitude das capacidades humanas por meio do conhecimento da cultura antiga, por sua vez transmitida por textos e objetos.  (Enciclopédia do Estudante, 2008)

                                 Antropocentrismo: celebração do ser humano. O homem é o centro de tudo. O homem é um ser autônomo, imortal, livre, criativo e poderoso. O que antes era simples natureza, agora se transforma em um produto humano.
                                 Hedonismo: O prazer individual e imediato passa a ser o supremo bem da vida humana. Os mestres deram as costas à idealização medieval da pobreza, do celibato e da solidão, e em seu lugar destacaram a vida familiar e o uso judicioso da riqueza. Até então a religião ensinara a desprezar a beleza e a alegria, consideradas inimigas mortais do Cristianismo.
                                 Individualismo: ver o mundo material com suas belezas naturais e culturais como um local a ser desfrutado, com ênfase na experiência individual e nas possibilidades latentes do homem. Exprime a afirmação e liberdade do indivíduo frente a um grupo, especialmente à sociedade e ao Estado. Conceito político, moral e social.
                                 Racionalismo: Operações mentais, discursivas e lógicas, que recusam as explicações transcendentais e prefere o racionalismo.Valorização do abstrato, expresso pelo matemático.
                                 Otimismo: abrir o homem positivamente para o novo, incentivando seu espírito de pesquisas. No Renascimento ele significa poder fazer tudo sem nenhuma restrição e abertura ao novo. Nessa época também tem início as grandes navegações, que levam as pessoas a valorizar crescentemente as conquista humanas.
           
Os humanistas, mesmo discordando da Igreja, não eram ateus. Eram cristãos que desejavam reinterpretar as mensagens bíblicas.
            O pensamento renascentista influenciou decisivamente a reforma religiosa. Ao propor uma nova forma de entender o mundo, valorizando o homem e suas realizações, os pensadores renascentistas entravam em confronto com o pensamento dogmático da Igreja, que defendia o sofrimento humano, a pobreza e a submissão às injustiças como condições necessárias para alcançar o Paraíso, atitudes que os clérigos defendiam em seus discursos, mas não adotavam na prática de vida.
            Apesar de não ter a intenção de romper com a religiosidade, o Renascimento representou um distanciamento das pessoas em relação aos dogmas, o que sem dúvida facilitou a adesão às novas religiões surgidas com a Reforma.

            Em relação à arte, este movimento recuperou os conceitos da beleza clássica tanto na arquitetura quanto nas artes plásticas, como:
- reutilização das formas características da arte greco-romana.
- pessoas comuns e vulgares passam a ser retratadas nas obras de arte.
- aplicação da perspectiva nos desenhos (técnica que permite reproduzir o aspecto real dos objetos em uma folha de papel).

             (...) Agora, o ofício do artista incluía uma habilidade diferente. Ele tinha que ser capaz de fazer estudos da natureza e transferi-los para seus quadros. Começou por usar um livro de esboços e organizar um repertório de esboços que incluía raros e belos exemplares de plantas e animais. (...) O público que via as obras do artista começou a julgá-la pela habilidade com que a natureza era retratada e pela riqueza dos pormenores atraentes que o artista conseguia incluir em seus quadros. Os artistas, entretanto, queriam ir mais além. Já não se contentavam com o domínio recém-adquirido de pintar detalhes tais como flores ou animais copiados do natural; queriam explorar as leis da percepção visual e adquirir suficientes conhecimentos do corpo humano para incluí-lo em suas estátuas e pinturas, como os gregos e romanos haviam feito. Uma vez que seus interesses enveredaram por esse caminho, a arte medieval podia realmente considerar-se no fim. Chegamos ao período usualmente conhecido como a Renascença. (GOMBRICH, 1972, p. 166)

            A necessidade de representar um espaço verídico controlado pela mente fez surgir a perspectiva artificial.
    (...) sistema de representação que imita a visão natural e reproduz espaço e figuras segundo uma relação proporcional. Para isso, tem-se no horizonte o ponto de fuga, em que convergem todas as linhas que partem do plano pictórico, que é uma projeção do olho do artista/espectador. (Enciclopédia do Estudante, 2008)
            Um dos principais nomes do renascimento científico foi Nicolau Copérnico (1473 – 1543), que estudou anatomia, física, botânica e astronomia, formulando em 1543 a Teoria Heliocêntrica, segundo a qual a Terra gira em torno do Sol.          
No período do Renascimento existiu a prática do mecenato, ou seja, da ajuda financeira a artistas e intelectuais por burgueses que desejavam prestígio social, por nobres e reis. Desta forma, o Renascimento foi também um movimento elitista, ao alcance apenas de pessoas ricas.
O movimento Renascentista pode ser dividido em três períodos: Trecento, Quattrocento e Cinquecento.
            Trecento: Corresponde ao fenômeno italiano de preparação para o Renascimento iniciado no século XIV. Neste período a Florença era o pólo político, cultural e econômico de toda a Itália. A economia passa do feudalismo para o capitalismo da livre concorrência e o surgimento dos bancos. A religião busca explicações racionais e científicas para os fenômenos da natureza e a salvação da alma não seria mais pelas indulgências, mas sim pela prática de ações virtuosas. Na arte o trecento corresponde ao rompimento com o imobilismo e a hierarquia da pintura medieval, assim como a  valorização do individualismo e dos detalhes humanos.
            Principais artistas do trecento:
Giotto de Bondone  1266/1337

Filippo Brunelleschi 1377/1446
         Brunelleschi estava empregado na conclusão da Catedral de Florença. Era uma catedral gótica e Brunelleschi tinha dominado inteiramente as invenções técnicas que faziam parte da tradição gótica. A sua fama, com efeito, assenta parcialmente num feito em traça e construção que teria sido impossível sem o seu conhecimento dos métodos góticos de construir abóbadas. Os florentinos desejavam que sua catedral fosse coroada por um imponente zimbório, mas nenhum artista era capaz de cobrir o imenso espaço entre os pilares em que o zimbório deveria assentar, até que Brunelleschi inventou um método para realizar isso. Quando foi chamado a projetar novas igrejas ou outros edifícios, decidiu abandonar inteiramente o estilo tradicional e adotar o programa daqueles que ansiavam por um renascimento da grandeza romana. Consta que ele viajou para Roma e mediu as ruínas de templos e palácios, fazendo esboços de suas formas e ornamentos. Jamais foi sua intenção copiar literalmente esses antigos edifícios. Dificilmente eles poderiam ser adaptados às necessidades da Florença quatrocentista. O que Brunelleschi tinha em mira era a criação de um novo processo de construção, em que as formas da arquitetura clássica fossem livremente usadas para criar novos modos de harmonia e beleza. (GOMBRICH, 1972, p. 168)

Lorenzo Ghiberti 1378/1455
            Esculpiu inúmeras portas para o Batistério com profundidade espacial, usando dos conhecimentos de perspectiva.
Dante Alighieri 1265/1321
            Escritor italiano, considerado pré-renascentista por apresentar características próprias da Idade Média.
            - A Divina Comédia
Giovanni Boccaccio 1313/1375
            Escritor florentino e um dos primeiros renascentistas a divulgar a literatura grega da Antiguidade.
            - O Decameron

            Quattrocento: era dourada do Renascimento ocorrida no século XV, principalmente em Veneza. A evolução da imprensa com Gutenberg facilita a propagação das obras clássicas da antiguidade. Foi o século de Lorenzo de Médici, o grande mecenas e do teórico Leon Batista Alberti.
            Principais artistas do quatrocento:
Donato Bramante  1444/1514
Donato di Niccoló (Donatello) 1386/1466
            Foi o grande escultor do século XV, realizando a primeira estátua desde os tempos antigos que fica em pé por si própria, recuperando o sentido do contraposto clássico.
            - São Jorge – mármore – 2,18 m
            - Profeta (Zuccone) – mármore – 1,95m
            - David – Bronze  - 1,58m (primeira estátua independente a retratar um nu em tamanho natural desde a Antiguidade)
            - Monumento Eqüestre - bronze

Leon Battista Alberti 1404 / 1472
           
Erasmo de Roterdã 1466?/1536
            Pensador renascentista, seu texto mais conhecido é Elogio da Loucura, no qual faz críticas aos poderes constituídos e à Igreja católica.
Nicolau Maquiavel 1469/1527
            Pensador italiano que escreveu a obra O Príncipe, em que traça as diretrizes do poder no Estado Moderno.
Thomas Morus 1480/1535
            Pensador inglês que escreveu a notável crítica social em seu livro Utopia, descrevendo uma sociedade ideal.
François Rabelais 1494/1553
            Escritor francês, focou conhecido com a saga dos gigantes em que satiriza o comportamento do clero e os dogmas católicos.
            - Gargântua
            - Pantagruel
Luís de Camões 1524/1580
            Maior poeta épico de Portugal, obras sobre o heroísmo e expansão marítima.
            - Os Lusíadas
Sandro Botticelli 1445/1510
            Os principais temas de suas obras foram as cenas mitológicas e religiosas.
            - O Nascimento de Vênus
            - Primavera
            - Madona do Magnificat
            - A Virgem e o Menino
Masaccio 1401/1428

Michelangelo Buonarroti 1475/1564
            Sua esculturas traduzem movimento e sentimento, como se dese vida a uma rocha.
            - Pietà
            - Moisés
            - David
            - Teto da Capela Sistina
Leonardo da Vinci 1452/1519
            Cientista, escultor, pintor e desenhista, introduziu na pintura o contraste claro/escuro para dar a idéia de perspectiva. Algumas obras arcam a fusão religiosa medieval com a humanística clássica.
            - Última Ceia
            - Mona Lisa
            - A Virgem dos Rochedos
Rafael Sanzio 1483/1520
            Pintor e arquiteto.
            - A Virgem com o Menino.
            - A Escola de Atenas

                   O Quattrocento é o século da experimentação e da especulação teórica, cujo centro principal é a cidade de Florença: a ordem e a claridade da arquitetura de Alberti, a melancólica humanidade da escultura de Donatello ou a importante solenidade de Piero della Francesca constituem algumas das referências visuais da época. A recuperação dos textos clássicos, a exemplo de Da Arquitetura de Vitruvio, assim como a análise das ruínas romanas, são o ponto de partida para os artistas renascentistas. (Enciclopédia do Estudante, 2008)
            Dentro do período do Quattrocento ocorreu a Alta Renascença (finais do quattrocento e primeiras décadas do cinquecento).
            A Alta Renascença foi a cristalização dos ideais que caracterizavam o movimento renascentista: o humanismo, a noção de autonomia da arte, a emancipação do artista, a busca pela fidelidade à natureza.
            O centro cultural passa a ser Roma e os grandes gênios da Alta Renascença foram Rafael Sanzio, Michelangelo e Da Vinci na escultura e na pintura; Bramante na arquitetura.
            Cinquecento: No século XVI a Renascença se expande para outras partes da Europa. Roma era a sede da arte com o patrocínio papal. A religião passa por uma fase de dúvidas e dramas que culminaram com a Contra-Reforma[1].

Michel Montaigne 1533/1592
            Humanista francês que se destacou pela análise brilhante de vários assuntos e exemplo de tolerância filosófica defendida pelos renascentistas.
Miguel de Cervantes 1547/1616
            Escritor espanhol que narra a impossibilidade de manter os valores medievais em uma sociedade comercial em Dom Quixote.
William Shakespeare 1564/1616
            Dramaturgo inglês que imprime em sua oba forte apelo humanista.
            - Romeu e Julieta
            - Hamlet
            - A megera domada
            - Sonho de uma noite de verão
            - O Mercador de Veneza
            - Macbeth
            - Otelo


Referencias
GOMBRICH, E.H. A história da Arte. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.
JANSON, H. W. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
PETTA, Nicolina Luíza de. História: uma abordagem integrada. São Paulo: Moderna, 2003.



[1] A Contra-reforma, também denominada Reforma Católica é o nome dado ao movimento criado no seio da Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante iniciada com Lutero, a partir de 1517

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