segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Capela Sistina do Paleolítico Caverna de Altamira na Espanha

O QUE VALE MAIS?
A PRESERVAÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES ORIGINAIS SEM ACESSO DO PÚBLICO, OU A ACESSIBILIDADE DOS TURISTAS À RIQUEZA DESTE PATRIMÔNIO?


A polêmica da caverna de Altamira

Reabertura da Capela Sistina paleolítica, fechada desde 2002, traz de volta os turistas, mas coloca em risco pinturas rupestres de 14 mil anos

João Loes
AMEAÇA
Fungos já cobrem parte das pinturas na caverna espanhola

Desde 2002, a caverna de Altamira, no norte da Espanha, está fechada para visitação. Nas pedras de suas entranhas estão registradas pinturas rupestres de cerca de 14 mil anos. Trata-se de uma coleção de arte pré-histórica tão singular que o espaço é chamado de Capela Sistina da era paleolítica. Até 2002, centenas de milhares de turistas disputavam os 8,5 mil ingressos colocados anualmente à venda para uma visita ao local. Hoje, porém, até pesquisadores têm dificuldade para conseguir estudar as pinturas in loco. Segundo relatórios de comissões federais espanholas, a umidade e o dióxido de carbono produzidos pela respiração humana, as luzes artificiais usadas para iluminar as paredes e a elevação da temperatura média da caverna alteraram o ecossistema do espaço. Fungos até então inexistentes passaram a se proliferar, desgastando a tinta milenar. O fechamento foi o caminho escolhido pelo governo espanhol para conter a degradação do sítio. A decisão, porém, será revista em meados deste mês, quando a comissão que administra o local se reunirá para decidir o futuro do espaço. Muitos interesses estão em jogo e há vozes contrárias à abertura.

Altamira fica na região de Cantábria, que sempre se beneficiou do turismo que o sítio gerou. Portanto, não foi uma surpresa quando vieram a público, em 2010, notícias de que o governo regional estaria pressionando o Ministério da Cultura espanhol para reabrir a caverna. Os defensores da exposição questionam os métodos usados pelas comissões que avaliaram o impacto do trânsito humano no sítio. “A identificação dos fungos e das bactérias em ação em Altamira não foi cuidadosa o suficiente”, disse à ISTOÉ Robert Koestler, diretor do instituto de conservação do Museum Smithsonian, nos Estados Unidos.

Para ele, a instalação de filtros de ar e a aspersão de biocidas viabilizariam a retomada das visitas. “Altamira é uma caverna linda que mostra uma fase fascinante do desenvolvimento humano”, afirma. “As pessoas só entenderão a riqueza das pinturas com acesso ao original.” Os administradores de outros sítios com pinturas rupestres, principalmente na Europa, não compartilham dessa opinião. É o caso da caverna Chauvet, na França, cujo acesso, limitado a especialistas, só é permitido depois de muita burocracia. “Nossos relatórios reafirmam a necessidade de manter a gruta fechada”, afirmou à ISTOÉ Cesáreo Sáiz, do Conselho Nacional de Pesquisas da Espanha (CSIC). “Mas, em última instância, a caverna é do governo federal e a decisão será dele.” Como se vê, a polêmica está só começando.

Comportamento http://www.istoe.com.br/reportagens/174108_A+POLEMICA+DA+CAVERNA+DE+ALTAMIRA
| N° Edição: 2191 | 04.Nov.11 - 21:00 | Atualizado em 05.Jan.12 - 23:15



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